Boataria sobre ataques convoca toque de recolher e apavora bairros

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Boataria sobre ataques convoca toque de recolher e apavora bairros

Uma onda de boatos sobre um suposto toque de recolher determinado pelo crime fez com que comerciantes baixassem as portas mais cedo e algumas escolas e faculdades dispensassem os alunos das aulas na noite de terça-feira (25) em Campinas e outras cidades da região.
Em diversos áudios divulgados em grupos do WhatsApp durante todo o dia, homens que se diziam ligados a uma facção criminosa afirmavam que os moradores não deveriam ficar nas ruas a partir das 20h ou 22h em diversos bairros, principalmente na região do Ouro Verde e Campo Grande. A Secretaria de Estado da Segurança Pública disse que tudo não passou da disseminação virtual de informações falsas.
A Polícia Militar informou que monitorou a situação, mas não havia nenhuma ameaça real.
Bairros como o Jardim Planalto de Viracopos, DIC 1, Jardim Capivari, Santa Lúcia, São Marcos, Vila Vitória, Jardim Novo Maracanã e Vila Padre Anchieta eram alguns dos principais citados. As cidades de Sumaré, Valinhos e Hortolândia também teriam sido alvos dos boatos, que se intensificaram com a chegada da noite, inclusive com informações sobre tiroteios e postagens de vídeos com supostos atentados.
Até o fechamento desta reportagem, a polícia não confirmou nenhuma ocorrência. “Vocês vão acreditar quando seus familiares ‘subirem’ (morrerem) ou você ‘subir’ (morrer). Passou das oito na rua vai ‘subir’, irmão”, ameaçou um rapaz em um dos áudios disseminados pelas redes sociais.
A reportagem do Correio percorreu na noite de terça-feira a região Ouro Verde e constatou que vários comerciantes, com medo, optaram por baixar as portas. Ao tomar conhecimento das gravações no aplicativo, funcionários de uma padaria no Jardim Alvorada, próximo ao Jardim Capivari, ligaram para o dono que decidiu fechar o comércio mais cedo, apesar de ainda haver clientes. “Não dá para esperar acontecer”, contou o marido de uma das trabalhadoras, que preferiu não se identificar.
A empregada Sofia Helena Moreira de Mattos afirmou que a filha recebeu a mensagem na tarde de ontem e decidiu não ir à aula. “Dá medo, não pode sair na rua.”
No Jardim Planalto de Viracopos, a cena se repetiu em um mercado. “Fala que é para fechar o comércio se não vão matar todo mundo”, disse a comerciante Shirley Mour. Uma das lideranças da região, Benedita Aparecida Franco de Camargo, que coordena a Casa da Sopa, confirmou o medo da população. “Nós estamos meio apavorados. Falei para as meninas não ficarem na rua.”

Alunos dispensados
Escolas, universidades e até academias dispensaram os alunos mais cedo por causa dos boatos.
A Faculdade Anhanguera liberou os alunos nos campi da John Boyd Dunlop e do Ouro Verde. Já no campus 3, no Taquaral, a direção pediu o reforço no patrulhamento. Segundo a instituição, diversos alunos receberam as mensagens e transmitiram o temor para a faculdade, que decidiu dispensá-los após o intervalo, às 21h.
A reportagem também constatou a dispensa dos alunos na Escola Municipal de Ensino Fundamental André Tosello, no Jardim Aeroporto. Segundo funcionários, parte deles teria ido ver uma peça de teatro. O restante foi à unidade, mas as aulas foram canceladas. O local recebe 150 estudantes no período noturno.
Leitores informaram que houve a suspensão das aulas na Escola Estadual Dr. Paul Eugene Charbonneau, no Jardim Fernanda, além de fechamentos de comércios e escolas em quatro bairros de Sumaré. Houve também relatos de dispensas no campus 2 da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). A universidade, porém, informou que sua orientação institucional foi de não haver dispensas.
Alunos também relataram que deixaram as aulas na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Estudantes também relataram terem sido dispensados das aulas na Esamc.

Segurança Pública
A Secretaria de Segurança informou que não há nenhum elemento que confirme a veracidade do toque de recolher em Campinas e nas cidades da região. Segundo a pasta, as informações se disseminaram em redes sociais após a chacina que vitimou 18 pessoas em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, em 13 de agosto.

O governo do Estado também confirmou que áudios parecidos também circularam em outras regiões de São Paulo em dias anteriores e não se confirmaram. Para a secretaria, os responsáveis pelos boatos de supostos ataques se aproveitaram de um momento de fragilidade por causa da chacina.
(Colaborou Jaqueline Harumi/AAN)

Fonte: Correio.rac.com.br