Restauração devolve cor para casas em J. Egídio

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As casas do centro do distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, estão voltando a ter as cores que possuíam quando foram construídas no final do século 19 e início do 20.
O branco, azul, amarelo e pêssego são maioria — tudo muito discreto como convinha a uma região produtora de café e com forte presença da migração italiana. Alguns, no entanto, como a subprefeitura, terão cores mais fortes porque foram encontrados resquícios dessas pigmentações nas pesquisas realizadas nas paredes.
Até o dia 28, quando termina o projeto, 32 imóveis na Rua Dr. Heitor Penteado — dos quais 17 tombados como patrimônio cultural de Campinas — estarão revitalizados. Serão um atrativo a mais para firmar o distrito como centro turístico e gastronômico de Campinas. (Leia abaixo: “Área é retrato vivo do auge do período do café na região”)
Foto: Dominique Torquato/ AAN

Parceria permite volta das cores originais nos imóveis de Joaquim Egídio; faixas de prospecção ficarão expostas com evolução das camadas

Parceria permite volta das cores originais nos imóveis de Joaquim Egídio; faixas de prospecção ficarão expostas com evolução das camadas
Na entrega da revitalização haverá um mutirão de pintura com a participação dos moradores e do nadador olímpico César Cielo, que apadrinha o projeto — o convite foi feito porque os pais do atleta são naturais da região. No dia 28 haverá show com o bloco carnavalesco do distrito.
Não se trata de restauração, diz o arquiteto da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), Luiz Antônio Aquino, mas de recuperação da cor original daqueles imóveis.
O projeto é uma parceria da Tintas Coral, da loja Cofert Tintas, moradores, subprefeitura, PUC-Campinas e Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). A ideia de pintar os imóveis surgiu da comunidade, que encaminhou projeto à Tintas Coral e foi selecionado. “É um projeto que nos dá muito prazer, porque envolve a comunidade, a história, a arquitetura”, disse o gerente do grupo Cofert Tintas, Wilson César Gução, que convidou Cielo para apadrinhar o projeto.
Para chegar à cor original das casas, foi feito um trabalho de prospecção por alunos do curso de Arquitetura da PUC-Campinas, com a retirada em pequenas áreas das paredes, de camada por camada de tinta. Não é possível saber quando ocorreu a primeira camada, porque não há registros daquele conjunto de casas.
“Talvez nunca venhamos a saber quando elas foram construídas”, disse Aquino. As faixas de prospecção serão protegidas para poderem ficarem à mostra nas paredes, de forma que as pessoas possam ver como foi a evolução da pintura ao longo dos anos em casa imóvel.
As casas estão sendo pintadas em tinta látex, uma licenciosidade possível, segundo o arquiteto, porque esse tipo de tinta já havia sido usado várias vezes ao longo do tempo naquelas casas. Junto com esse trabalho também foi feita uma pesquisa da história oral dos proprietários que, segundo Aquino, deixou clara a influência da migração italiana na forma de tratar o lugar em que vivia.
“Eles dizem que a casa foi pintada naquela cor, porque era assim que o avô, o tio faziam. Mesmo sem ter clara a influência, eles estão relatando um modo de vida, uma tradição com forte influência daqueles que migraram para trabalhar na cultura do café”, afirmou.
De acordo com o subprefeito Marcelo Duarte, os moradores não estão tendo qualquer custo com a pintura. A adesão ao projeto foi voluntária — nem todos, no entanto, concordaram em ter a casa pintada. “A ideia não é só preservar, mas recuperar a originalidade das cores”, afirmou.
“O nosso projeto tem a missão de levar cor para a vida das pessoas, principalmente em lugares que possuem uma importância histórica e relevância para os moradores. Joaquim Egídio é um desses locais que reúnem todas as condições históricas e culturais para a realização do projeto. E a participação do César Cielo como padrinho coroa a iniciativa”, disse Marcelo Abreu, gerente de marketing institucional da Tintas Coral.
Casarão bicolor
O Casarão de Joaquim Egídio vai ganhar duas cores, porque são dois prédios unidos. Um, com entrada pela lateral, era uma residência pintada em um amarelo forte. O maior, com frente para a Dr. Heitor Penteado, um amarelo mais claro. E assim ficarão. Há algumas casas já pintadas em verde ou laranja mais fortes, cujas cores pertenceram também à origem dos imóveis, que usavam cal nas paredes com pigmentos minerais.
Foto: Dominique Torquato/ AAN

Casarão de Joaquim Egídio terá duas cores, porque originalmente era composto por dois prédios distintos

Casarão de Joaquim Egídio terá duas cores, porque originalmente era composto por dois prédios distintos
Área é retrato vivo do auge do período do café na região
O centro histórico de Joaquim Egídio é remanescente do período do café no interior paulista e abriga construções do fim do século 19, estradas e pontes férreas, e fazendas da época que ainda funcionam com fins turísticos. A cultura do café foi tão importante que era o principal produto de cultura na região no final da primeira metade do século 19. Seu crescimento foi tão grande que motivou a instalação de linhas de trens que ligasse a região das fazendas com Jundiaí e depois, mais a frente, ao Porto de Santos.
Até a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, os distritos de Sousas e Joaquim Egídio viveram momentos de prosperidade com as plantações de café. Mas a crise fez os fazendeiros queimarem plantações, teve início o êxodo rural e o começo das divisões das terras em sítios e chácaras. Hoje o café representa a minoria da produção dos distritos e a própria condição geomorfológica (região montanhosa), que impede a agricultura mecanizável, acabou dando lugar à agropecuária, aos eucaliptos e ao milho.
Os dois distritos abrigam a maior parte dos 2,5% de mata nativa que ainda restam em Campinas. O distrito de Joaquim Egídio está dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Campinas. (MTC/AAN)
Saiba Mais
O “Tudo de cor para você” é o principal projeto socioambiental da Tintas Coral. Desde o início do projeto, mais de 720 mil litros de tintas já foram usados para renovar mais de 7mil imóveis em comunidades de diferentes regiões do país, localizadas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Olinda, Porto Alegre, Ouro Preto, Porto Seguro, Florianópolis, Fortaleza, Paraty, João Pessoa, Recife e Mauá.

Fonte: Correio Popular